Os cuidados com a saúde bucal constituem parte essencial da preparação para o transplante
de órgãos e tecidos. Algumas medicações do tratamento podem apresentar efeitos adversos
que requeiram acompanhamento de um cirurgião-dentista para diagnóstico e tratamento
desses efeitos, evitando maiores agravos. Algumas medicações de indicação odontológica
também podem agravar a condição sistêmica dos pacientes em lista de transplantes, especificamente
nos casos de pouca capacidade do organismo para metabolizar tais medicamentos.
Os riscos de infecções e a ocorrência de sangramentos são também importantes condições a
serem observadas pelos cirurgiões-dentistas e pacientes em tratamento. Ressaltamos que o
tratamento odontológico adequado é fundamental para minimizar riscos de infecções que
possam retardar ou contraindicar o transplante, ou até mesmo trazer problemas nas fases posteriores
ao procedimento.
A rotina de procedimentos dentários, como limpezas, remoção de dentes, cirurgias gengivais,
e mesmo o uso de anestésicos locais para restaurações podem resultar em complicações
se o cirurgião-dentista não for preparado para esse tipo de atendimento; portanto, a escolha
do profissional de odontologia é muito importante para a segurança do paciente. Os tratamentos
protéticos e restaurações convencionais são procedimentos pouco invasivos e apresentam
baixo risco de complicações.
Cáries dentárias e redução de saliva:
A saliva desempenha papel importante no combate
à cárie dentária. Várias medicações podem
causar redução da quantidade de saliva, assim
como algumas doenças virais, que podem provocar
inflamação das glândulas salivares. Tanto os
indivíduos em lista para o transplante quanto os
transplantados podem apresentar alterações na
composição e no fluxo salivar. Com isso, a predisposição
ao desenvolvimento de cáries torna-se
maior. Assim sendo, cuidados mais intensos com
a higiene dentária são necessários.
A queixa de boca seca e a dificuldade de engolir
alguns alimentos são bastante comuns em pacientes
em uso de quimioterápicos, a exemplo
dos medicamentos usados na fase pré-transplante
de medula óssea. A redução do fluxo salivar
nesse grupo de pacientes é frequente e haverá
recuperação com o passar do tempo, exceto no
caso daqueles que desenvolverão a doença do
enxerto contra o hospedeiro nas glândulas salivares,
após o transplante alogênico de medula
óssea. Com o fluxo salivar alterado, a mucosa fica
seca e mais suscetível a rompimento, tornando a
cavidade bucal um ambiente favorável à proliferação
de micro-organismos.
As crianças que sofrem de doença renal crônica
na primeira infância têm risco elevado de alteração
no desenvolvimento do esmalte dentário,
provavelmente devido ao metabolismo alterado
de cálcio e fósforo, desencadeando uma alteração
denominada hipoplasia de esmalte. Nessa
condição, ocorre aumento da porosidade da superfície
dos dentes, favorecendo a colonização
por placa bacteriana dental e, consequentemente,
o aumento da incidência de cáries dentárias.
Apesar de a incidência de cáries nesses pacientes
ser baixa, há incidência de 30% maior nos
transplantados renais quando comparados com
crianças normorreativas.
Cáries não tratadas podem evoluir para condições
de inflamação pulpar, desencadeando processos
inflamatórios que levarão à realização de
tratamento de canal. Por vezes, haverá formação
de edemas e abcessos, levando ao uso de medicações
para combater a dor e controlar a infecção,
comprometendo a saúde do indivíduo imunossuprimido.
Cuidados com as gengivas:
A saúde gengival é muito importante em pacientes
com comprometimento sistêmico e com risco
de hemorragias. Em doenças gengivais mais
avançadas, pode ocorrer mobilidade dentária
com sangramento espontâneo, agravamento
das infecções localizadas ou complicações sistêmicas,
principalmente em imunossuprimidos.
Em indivíduos com distúrbios de coagulação ou
em uso de anticoagulantes, a extração dentária
dos dentes comprometidos pode apresentar episódios
de hemorragias no trans e pós-operatório.
Portanto, não se deve negligenciar a higiene bucal,
devido ao receio de sangramento durante a
escovação dos dentes e uso do fio dental. A negligência
do autocuidado na higiene bucal potencializa
o aumento das infecções bucais e seus
agravos locais e sistêmicos.
Outra condição que acomete os pacientes transplantados
é a hiperplasia gengival, sendo um
efeito colateral proveniente do uso de medicações
imunossupressoras. A hiperplasia gengival
caracteriza-se pelo aumento exagerado da gengiva,
podendo ser branda ou severa, chegando a
cobrir os dentes em sua totalidade. Muitas vezes
a hiperplasia dificulta a higienização, levando à
inflamação e abrindo portas para infecções. Além
disso, sabe-se que a má condição de higiene bucal
pode agravar o quadro de hiperplasia.
Infecções oportunistas (bacterianas,
fúngicas e virais)
As infecções representam grande perigo para
receptores de transplantes de órgãos e tecidos.
Essas infecções podem se apresentar por meio
de manifestações bucais mesmo sem sintomas
sistêmicos. As infecções bucais com repercussões
sistêmicas podem ser bacterianas, fúngicas e virais,
e podem ser a causa de morbimortalidade
em pacientes transplantados.
A necessidade de imunossupressores sistêmicos
nos transplantados de órgãos predispõe à infecção
oportunista fúngica. A candidíase é a infecção mais
frequente e deve ser diagnosticada e tratada adequadamente
pelo cirurgião-dentista. Os sintomas e
sinais são ardência bucal, queimação, vermelhidão
na boca e/ou presença de placas brancas que se
soltam quando se realiza a escovação.
Atenção especial deve ser dada aos pacientes
que usam próteses dentárias, totais ou parciais,
pois a falta de higienização adequada dos aparelhos
protéticos pode causar infecções fúngicas,
que são mais agressivas nos pacientes imunossuprimidos,
algumas vezes, com difícil resposta aos
tratamentos propostos.
As infecções virais podem ser comuns, principalmente
as causadas pelos vírus herpes simples,
epstein-barr e citomegalovírus. As manifestações
são, na maioria das vezes, úlceras dolorosas que
dificultam a alimentação e a limpeza, devendo
ser tratadas devidamente, para que a condição de
normalidade seja estabelecida rapidamente.
Cuidados Básicos:
Além de todas essas dicas básicas, é imprescindível que se tenha uma rotina onde, pelo ao menos uma vez ao ano comparecer ao dentista. Checar se está tudo bem, fazer uma limpeza profissional e sanar possíveis problemas eventuais, para que estes não venham a ser uma doença mais séria no futuro.
Faça avaliação de prevenção anual e no aparecimento de qualquer alteração e sintomas procure um especialista.