A doença renal crónica terminal tem frequentemente um efeito negativo na vida da mulher pois afeta os seus projetos educativos, laborais e familiares. Estes são postos de parte para que aprenda a lidar com a doença e as complicações inerentes ao tratamento.
Após o transplante renascem as expetativas de vida e a possibilidade de conceber ou criar um filho ganha nova dimensão. O aconselhamento pré-concepcional e o acompanhamento por uma equipa multidisciplinar (nefrologia/obstetrícia) farão com que a maternidade seja bem-sucedida.
O transplante proporciona uma melhoria significativa na qualidade de vida do doente renal terminal e nos últimos 20 anos observou-se um aumento nos índices de sobrevivência. A primeira gravidez de uma transplantada renal ocorreu em 1958.
É aconselhado que a mulher transplantada espere pelo menos um ano após o transplante para engravidar.
Pensar na gravidez implica uma avaliação completa sobre o estado de saúde e um acompanhamento médico adequado antes, durante e após a gravidez de modo a originar bons resultados para a mãe e para o bebé.
É frequente tanto nos homens como nas mulheres existir baixo nível de actividade sexual, devido á doença e á falta de desejo sexual (libido diminuída). Estas dificuldades prendem-se com complicações relacionadas com a doença renal e medicamentos ou problemas de relacionamento com o/a companheiro/a. Porém após o transplante verificam-se melhorias significativas na actividade sexual, nos homens a dificuldade na erecção melhora e nas mulheres a função ovárica e a fertilidade regressam á normalidade durante o primeiro ano de transplante.
É aconselhado que a mulher transplantada espere pelo menos um ano após o transplante para engravidar, este período permitirá certificar que o órgão transplantado está saudável e com bom funcionamento.
O aconselhamento pré-concepcional deve reforçar a importância do uso de métodos contraceptivos, que devem ser adequados ao casal, desde o preservativo (previne a gravidez e as doenças sexualmente transmissíveis) á pílula que só deve ser utilizada após consulta médica uma vez que pode aumentar o risco de coágulos no sangue, causar tensão arterial alta, alterações gastrointestinais e aumentar os níveis de alguns medicamentos imunossupressores.
Após este período, para uma gravidez segura, é necessário ter:
As guidelines da Kidney Disease Improving Global Outcomes para o acompanhamento e prestação de cuidados de saúde aos transplantados renais reforçam que a mulher não deve engravidar antes que passe um ano do transplante e sem que os valores da função renal estejam estabilizados, com proteinúria inferior a 1g/dia e tensão arterial controlada.
Se todos estes fatores forem respeitados o risco de rejeitar o rim será menor, no entanto se existir rejeição durante a gravidez, esta só pode ser combatida com o aumento da terapêutica imunossupressora, o que poderá aumentar o risco de infecção uma vez que o organismo fica mais debilitado.
Para que uma gravidez seja segura é importante que mãe, bebé e órgão transplantado estejam bem. A maioria das mulheres não tem complicações com o órgão transplantado, no entanto transplantadas com níveis de creatinina e de tensão arterial elevados antes da gravidez correm maior risco. Será então importante avaliar se os riscos de uma gravidez serão demasiado elevados.
Alguns medicamentos imunossupressores podem afetar o desenvolvimento fetal. Neste sentido é importante que antes de engravidar a medicação que habitualmente faz seja revista para assegurar que não é prejudicial ao bebé. Caso seja necessário suspender algum pode ser preciso aguardar algum tempo até engravidar, para garantir que o medicamento seja totalmente eliminado do organismo. O objetivo é manter a mulher saudável, o órgão transplantado funcional e a saúde do bebé.
Complicações podem ocorrer em qualquer gravidez, no entanto uma transplantada renal será sujeita a uma vigilância mais apertada com o intuito de garantir o sucesso da gravidez. As mais comuns são tensão arterial alta, proteínas na urina, infecções urinárias, diabetes gestacional, anemia e em casos mais graves pré eclampsia (tensão arterial alta, proteínas na urina e edema nas pernas e pés). Se o órgão transplantado funciona bem o risco de aborto é igual ao de qualquer outra mulher. Quando já existem complicações com o rim e a saúde da mãe não está controlada é normal existirem partos prematuros e bebés que nascem com baixo peso.
Embora possam surgir problemas com o bebé, geralmente estes são saudáveis e têm um desenvolvimento normal. Porém se existem factores genéticos que impliquem a doença renal a criança pode estar em risco de herdá-la, será importante conversar com o médico que acompanha a futura mãe e se necessário ser encaminhada para uma consulta de genética e aí ver esclarecidas todas as dúvidas. O mesmo se passo quando é o pai transplantado, os riscos associados a uma gravidez são iguais aos da população em geral, mas é importante saber a influência genética da doença no bebé.
A gravidez pode afetar os níveis de supressão imunológica porque a grávida aumenta de peso e produz maior volume de sangue para suportar o feto. Estas alterações podem implicar um aumento da dose dos imunossupressores para manter os níveis pré-gravidez.
Normalmente a grávida transplantada poderá ter um parto normal, o recurso há cesariana existirá apenas na presença de complicações.
Habitualmente amamentar é o melhor para o bebé, porém no caso de uma transplantada será necessário esclarecer com o médico se existe influência da terapêutica no bebé. Níveis baixos de terapêutica imunossupressora foram detetados no leite materno mas os seus efeitos para o bebé são desconhecidos.
Conclui-se que a gravidez não influencia negativamente a função nem a sobrevivência do rim transplantado, e na maior parte das vezes é um sucesso desde que seja planeada e acompanhada por uma equipa multidisciplinar. A minimização dos riscos para a grávida, para o feto e para o rim transplantado dependerá do planeamento da gravidez após pelo menos um ano de transplante, da estabilidade da função renal (creatinina inferior a 1,5mg/dL e proteinúria inferior a 1g/dia) e do controlo da tensão arterial.